Nunca fui uma pessoa sentimental. Não no externo, pelo menos.
Durante a maior parte da minha vida não só não demonstrei afeto algum por quem quer que fosse, como não sentia o mesmo.
Pais, irmão, toda a família, colegas de classe... via eles como pessoas e nada além disso, o que são, claro. Eram como robôs, todos iguais... falando igual, andando igual, sonhando igual... Menos eu.
Cogitava diferentes futuros para mim, todos "fora do meu alcance". Pensava no porque eles queriam todas aquelas mesmas coisas, porque falavam daquelas coisas, brincavam daquele jeito.
Sempre me olharam diferente, como se eu fosse o patinho feio ou a ovelha negra, talvez porque eu olhava eles diferente também. Mas sempre foi tudo interno... raramente me expressava.
Um dia, algum dia, resolvi me expressar... falar do meu jeito, andar do meu jeito, deixar que vissem meu jeito de pensar... e nada mudou, continuaram me olhando diferente, e eu continuei olhando eles diferente.
Não somos da mesma espécie, talvez. Me deparo com isso em qualquer lugar que eu vá.
Mas mesmo assim, continuei bloqueando o lado sentimental, jamais demonstrando afeto ou coisa do tipo pra quem quer que fosse. Com uma diferença... eu já sentia.
Então deixei as pessoas de lado e resolvi pensar em como eu penso, no porque eu penso como penso e no porque eu penso. Foi quando me internei em um sanatório dentro de mim. Uma viagem mística na qual eu aprendi tanto, que não sei ainda lidar com tanta informação, falta uma peça.
E dentro de toda essa confusão mental/psicológica/emocional, passei a sentir... sentir mais, muito mais.
Sentir tanto que qualquer coisa me fazia chorar, alegria, raiva, amor, ódio, afeto, desapego, ignorância, futilidade, tédio, solidão, saudades, excesso de convivência, nostalgia, sonhos perdidos ou deixados de lado, metas "impossíveis", situações-histórias-pessoas-eventos que aconteceram antes mesmo de eu nascer, músicas, filmes, comerciais, carência, ócio, coisas que imagino/viajo quando me deito e sonhos que me lembro ao acordar. Tantas coisas... e tudo dói. O mundo dói demais em mim. Do âmago do meu ser, eu grito desesperadamente, choro sem conseguir parar ou saber o porque de estar chorando, sinto uma dor que parece vir do além, e então passa.
No fim das contas, sentir demais é ruim, ainda mais quando você não sabe o que sente, ou porque sente.
Só eu sei o que é isso que eu sinto, e nem eu mesma sei o que é. Só eu vi acontecer, só eu me consolei e me dei tapas na cara nessas horas, só enchi a cara junto com a garrafa, só desejei dormir e nunca mais acordar, só.

É, só...

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