Gjergj Elez Alia, o maior dos heróis,
À nove anos já em sua cama definhava,
Dia e noite ao seu lado uma de suas irmãs permanece,
Limpando suas feridas por nove anos com água da primavera,
Limpando suas feridas todo o tempo com suas lágrimas,
E o sangue com os cachos de seus cabelos,
Compelindo suas feridas com o xale de sua mãe,
As roupas velhas de seu pai seu corpo protegem,
E no pé de sua cama suas armas penduradas.
Cada noite quando pregado à sua cama por sua irmã,
Ele desligava os pensamentos do desconforto de seu corpo,
Mas se contorcia com a dor que causara à sua irmã.
Os rumores se espalhavam e ficou sabido que
Um Baloz moreno havia emergido do oceano.
O monstro era maligno e criado da destruição,
Cada família deve dar-me uma bela mulher,
Dia após dia um kreshnik deve ser morto,
E semana após semana uma região deve ser devastada."Logo seria Gjergj quem receberia essa injunção,
O rosto de seu irmão foi coberto por lágrimas,
Como ele poderia ceder à um Baloz sua honra?
Logo se ajoelhou sua irmã, pedindo e esperando,
Com lágrimas em seus olhos, então para Gjergj ela lamentava:"À Morte, meu querido irmão esqueceu de nos levar,
Com nossa mãe e nosso pai que descansam bem embaixo de uma tília,
E você, por nove anos, à sua cama aprisionado?
Sua irmã, deve ela ao Baloz ceder?
Por que Kulla não se aborrece e nos destrói?
Por que nossa torre não se torna uma tumba,
Protegendo e mantendo sua honra intocável?"Gjergj ficou de coração partido ao ouvi-la lamentar,
E abriu seus olhos, para sua irmã contemplar.
O rosto do herói estava coberto por lágrimas,
E agora falando, com raiva gritou ao Kulla:
"Oh, minha fortaleza, você pode escurecer, se tornar sombrio,E pode apodrecer do alto topo ao fundo do poço,
Que tenhas como inquilinos serpentes e víboras.
Como deixastes o chão se umedecer com as gotas da chuvas?""Não, meu querido irmão," respondeu sua irmã,
"Você não entende, a febre o confundiu,
Não chove à tempos, meu querido irmão,
É somente as lágrimas de sua irmã que você está vendo!"Gjergj pegou a mão de sua irmã e a apertou,
Afagando seu braço com seus dedos firmes e sólidos,
Ele olhou para sua irmã, seus olhos cheios de tristeza,
Com palavras claras e lúcidas ele agora disse à sua irmã:
"Minha boa irmã, por que o pranto?Por que partes meu coração assim?
Por nove anos inteiros agora eu tremi,
Como as árvores faias na luz do sol,
Nenhum descanso me foi dado,
Mas me diga, seu irmão alguma vez
De roupas, comida ou água, já a privou?
Seu irmão alguma vez a amaldiçoou,
Ou soltou sua raiva em você
Para que você desejasse me deixar e se casar?"Então, logo a irmã respondeu,
Enquanto sua mão estava em sua cabeça:
"Por que perguntas tal coisa, minha árvore faia florescente?Será que a febre tomou posse de seu bom senso?
Eu prefiro ser enterrada viva do que me casar,
Nunca me privastes de comida ou água,
E nunca me negastes boas vestes e o que calçar,
E nunca falastes de maneira mais dura do que agora,
Além de você, não tenho pai nem mãe,
Te imploro, meu irmão, não se ofenda
De todas as preocupações eu te confesso.
Nove primaveras se passaram e seu corpo aqui permanece,
Você nunca se levantou e saiu pela porta?
E nenhuma reclamação ouvistes de sua irmã,
Mas deveria eu agora me entregar ao Baloz?"O herói então se levantou e ordenou:
"Vá e sele meu cavalo, mulher,E vá direto até a cidade,
Encontre o ferrador, meu irmão de sangue,
Diga-o que Gjergj o manda saudações,
Que ele prepare bons cavalos de guerra,
E que unhas de ferro eles tenham,
Porque eu desafiarei o Baloz!
E que o ferrador não o espere,
Leve-o para o ferreiro, meu amigo."
A moça então foi até a cidade,
Para encontrar o ferrador, seu irmão de sangue:"Sucesso e saudações à você, irmão!"
"E saudações à você, distante irmã!"
"À você Gjergj manda suas saudações,
E te implora que arrume o corcel,
Prepare boas ferraduras,
E que unhas de ferro elas tenham,
Porque o Baloz ele irá enfrentar!"
Astutamente disse o irmão ferrador:
"Se me der, mulher, seus favores,
Eu asseguro o triunfo de seu irmão
E asas para voar, darei ao corcel!"
Oh, com tanta fúria disse a mulher:
"Como ousa, homem, que tua língua apodreça,
Pensei que viestes à nosso irmão de sangue,
O corcel não está aqui à nove anos já,
E você se comporta como um cigano libidinoso,
Sou devotada à minha família
Que está apodrecendo no cemitério,
E à Gjergj, gravemente enfraquecido!"
Então ao ferreiro foi a irmã:
"À você Gjergj envia saudações,
É a vez dele agora de lutar,
O melhor que puder, calce o corcel,
Prepare as melhores ferraduras,
E que unhas de ferro elas tenham,
Pois o Baloz do mar ele irá enfrentar!"
E como dito, ele calçou o corcel.
Retornando à casa, a mulher o encontrou
Esperando, sombreado por uma tília.
E o herói, Gjergj Alia?
Já havia mandado suas saudações ao Baloz,
Para encontra-lo cedo nos campos de guerra.
"Não tenho donzelas para você, Baloz,
Minha ovelha não foi assada para você,
Tenho porém, uma irmã, mas não para dar à você,
Quem mais cuidaria de meu corpo ferido?"
Quando a noite tocou as montanhas,
Para os campos de guerra foram os heróis,
E começaram a trocar insultos:
"De sua tumba, Gjergj, levantastes?
Por que me chamastes aos campos de guerra?"
Sabiamente respondeu o herói:
"Eu bem entendo, as palavras arrogantes que dissestes
Nove anos se passaram desde que eu atingi a beira da morte,
Mas sua chegada me deixara vívido.
Você exigiu minha irmã antes da batalha,
Você exigiu minhas ovelhas sem perguntar ao pastor,
Agora eu vim aos campos de guerra para lhe ensinar
Uma tradição antiga, passada por nossos antepassados,
Sem render armas não há nada que lhe darei,
Jamais lhe darei minha irmã,
Sem antes batalhar nos campos de guerra,
Seu dia chegou, Baloz, então se prepare."
Ele o desafiou, Gjergj Elez Alia,
Eles arriaram seus corcéis e foram à luta,
O Baloz se apressou e atacou com sua clava,
De joelhos ficou o veloz corcel de Gjergj,
E por suas cabeças a ponta da clava passou,
Vinte e quatro jardas voando no vale,
Vinte e quatro jardas no ar cresceu a nuvem de poeira,
Agora era a vez de Gjergj de batalhar.
Com muita velocidade ele lançou sua clava,
E pelo ar feriu e derrubou o Baloz.
O Baloz caiu e fez a terra tremer.
Em um único momento, Gjergj puxou seu sabre,
E assim, separou a cabeça do corpo,
O torso ele jogou pra trás dele,
E o lançou dentro do lago com seu corcel,
O rio ficou negro com o sangue do monstro,
E por três anos inteiros infestou a região.
O vitorioso então deu as costas e voltou à seu Kulla,
E lá ele se juntou com seus companheiros,
"Tenham como conselho, meus companheiros, o que lhes digo agora,
À vocês ofereço minha torre e fortaleza,
À vocês eu transfiro e concedo todo meu dinheiro,
Todos meus pertences e todo meu gado,
E atribuo à vocês a irmã de Gjergj Elez Alia,"
O herói então se virou, e em um ultimo esforço
Jogou seus braços em volta do pescoço de sua irmã sem sorte,
Naquele exato momento os dois corações pararam de bater,
Mortos caíram no chão irmão e irmã,
Nenhum espírito melhor já havia prestado.
Seus amigos começaram a murmurar em grande lamentação,
E para os dois irmãos uma grande sepultura se abriu,
Para irmão e irmã, seus braços entrelaçados,
E além da sepultura para eles foi feita uma bela tumba,
Para que irmão e irmã não fossem esquecidos,
E lá, na cabeça da tumba foi plantada uma tília,
Um local para o repouso dos pássaros no verão.
E quando na primavera nas colinas tudo florescer,
Um cuco voou e repousou na sepultura
E percebeu que os galhos da tília haviam murchado.
Então voou até a torre abandonada,
E percebeu que o teto havia caído em ruínas.
Batendo asas, voou até uma janela,
E de seu poleiro chamou um andarilho que por lá passava,
"Oh, andarilho que passa pelas montanhas,
Podes cantar, e parar aqui por um momento,
Podes chorar, então prantear e lamentar aqui,
Pois eu procurei pelas pastagens das mais altas montanhas,
Pois eu voei pelos pastos mais baixos no inverno,
Pois eu procurei de casa em casa choroso,
E em lugar algum pude encontra-lo, Gjergj Elez Alia."
(Foto puramente ilustrativa. Gjergj Elez Alia foi um grande guerreiro, porém faz parte somente do folclore e mitologia da Albânia.)
(*Baloz = Cavaleiro negro assassino)
(**Kulla = Deus dos empreiteiros, Templo)
(***Kreshnik = Ovelha)









